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O primeiro leitor, de Luiz Schwarz


22 de maio, 2025


O livro se apresenta, e também está formalmente organizado, como um duplo. Em parte, memórias pessoais de uma carreira de mais de quatro décadas como editor de livros; em parte, comentários (técnicos, estéticos e éticos) sobre o exercício da profissão. As memórias foram escritas como longas crônicas, centradas em escritores e editores de especial importância para Luiz Schwarcz, ele mesmo um dos maiores editores brasileiros dos últimos 50 anos. São vinhetas expandidas de nomes como Susan Sontag, Rubem Fonseca e José Saramago, entre outros autores, e Caio Graco Prado e Jorge Zahar, dois “pais” e mentores do criador da Companhia das Letras, hoje o maior grupo editorial do país. Já os comentários, sem pretensão acadêmica, compõem em conjunto um acervo de observações práticas e conjunturais, que podem bem servir de orientação para quem está entrando no ramo.

A seu modo, o livro é também uma espécie de duplo de O Ar Que me Falta, impactante texto autobiográfico lançado há quatro anos, abordando uma infância difícil e recorrentes episódios de depressão do autor adulto, na aparência tão bem sucedido e feliz. Aqui também, por trás de tantos momentos de alegria, vai-se desfiando uma longa história de perdas pessoais e frustrações profissionais. Mais cedo ou mais tarde, as vagarias da vaidade humana acabam comprometendo, quando não arruinando amizades. E o passar dos anos, por si só, roubará do convívio amigos e parceiros.
Tudo isso é narrado, agora, com serenidade e humor, pelo editor maduro.

Não dá para imaginar alguém com maior capacidade de realização do que Luiz Schwarcz, não só pelo trabalho editorial, mas por tantas outras empreitadas. Por trás dentanto empenho e tanta entrega, não é pequena a conta. Rico de anedotas muito humanas e de observações literárias e editoriais, O Primeiro Leitor é uma espécie de autobiografia através dos outros e através dos livros. Sem alarde, sem pompa, resume experiências extraordinárias num relato em que, como ele mesmo diz, o acaso e os encontros com outras pessoas vão definindo o curso de uma vida.  

(São Paulo: Companhia das Letras, 2025)



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