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O que é meu, de José Henrique Bortoluci

São Paulo: Fósforo, 2023


10 de abril, 2023

Mistura de memória, reportagem e ensaio, este pequeno imenso livro projeta, de imediato, o nome de José Henrique Bortoluci como um dos intérpretes do Brasil. Na prateleira, ficaria bem com Annie Ernaux (mencionada no texto), de um lado, e Graciliano Ramos, de outro. Conversa com João Moreira Salles (autor da orelha), tanto no que tem a dizer sobre a Amazônia, como no inesquecível retrato do pai, um caminhoneiro aposentado, depois de 50 anos de estrada, agora lutando com doenças e com médicos.  Na estante imaginária, ficaria ao lado, também, de Tolstói, pela dimensão moral e afetiva da prosa; e de Drauzio Varella, outro narrador da nossa barbárie e de nossos dilemas de saúde. Questões fundas da cultura brasileira se cruzam, aqui, com a experiência do filho, professor universitário, abrindo-se, com respeito natural e compreensão cultivada, à experiência do pai, jogado desde cedo na precariedade das condições do Brasil. Há muito mais para ser dito, deste livro que diz tanto e importa tanto, num momento de virada. O que mais fica, o “o que é meu” do título, mistura o que é do pai e o que é do filho, nesse acerto de contas que ensina a pensar e a viver.

Instagram, 13/3/2023